quarta-feira, 14 de maio de 2008

Ceifeira

Nascemos todos com a certeza de que "um dia" haveremos de morrer.
Passo os olhos pela história dos homens e mal posso acreditar neste fado certo, tanta é a miséria humana: Do crime violento á inveja mais mesquinha, passando pelo ódio, a indiferença, o insulto, a vaidade, a avareza, as privações daquilo que é considerado básico a qualquer pessoa para que viva com alguma dignidade...
Esse "um dia" , se pudéssemos escolher, seria sempre num amanhã bem retardado. E então vemo-nos entretanto nas nossa vidas tão preenchidas e ocupadas, sem tempo para nada, e felizes por assim dizer, já que desta forma nos inoculamos tão eficazmente contra as maleitas da vida.
Sem tempo para nada, nem para ninguém !
E um dia o tal "dia" chega... assim de mansinho. Como que de surpresa...
E a inexorável ceifeira bate-nos á porta ! Sim á nossa porta ! E arrebata-nos alguém que amamos...Para todo o sempre... Para nunca mais ou, e eu acredito, até um dia !
E então, pela força da dor que não se vê, mas que a sentimos, encontramos uma outra versão do nosso "eu" . Uma versão até então desconhecida. Isto porque somos invadidos pelo sentimento de culpa, pela má gestão que fazemos do nosso tempo...tempo que apenas dedicamos a nós e dele nada sobra para os outros. Este sentimento que nos mata e que nos delicera por dentro e por fora... E de repente queremos corrigir esta lacuna na nossa vida mas nada a consegue colmatar... porque a ferida pode sarar mas a cicatrz não se consegue apagar.
E o amor que tenho por todos vós ( irmãos) é enorme. Os momentos em que estou convosco faço deles uma grande festa: cheia de palavras que não quero que fiquem por dizer; abraços que não fiquem por dar; e amor que não fique por oferecer... Não vá a ceifeira novamente chegar !
Hoje estou assim...

4 comentários:

Anônimo disse...

E às vezes há quem a queira apressar...

Zig disse...

Na Alemanha mais conhecido por "Der Sensenmann"...

jocasipe disse...

Belo texto. Deixa-nos a pensar...

osátiro disse...

Embora um pouco melancólico, o texto é literário e obriga-nos a pensar.